Wednesday, July 20, 2005

O dom de ser amigo

“Visite seus amigos. A grama cresce mais rápido por caminhos não percorridos”.
(Provérbio Chinês)


“Você fez parte da vida da Anne”. Foi com esta frase que a tia Glória me recebeu no casamento da filha dela, a Anne Caroline, minha grande amiga da época do Dom Bosco. Alguém a quem eu chamava de irmã quando estudávamos juntos.


Nessa mesma hora me veio um flashback de tanta coisa que eu vivi com a Anne. Sem desmerecer ninguém e nenhuma amizade posterior, mas foi a amizade mais pura e sincera que eu tive em toda a minha vida. Era um apoio incondicional, uma vida dividida, decepções vividas lado a lado e alegrias compartilhadas também. Acompanhei muitos momentos da vida da Anne e ela acompanhou muitos momentos meus. Chorei muito quando ela teve que ir embora para Curitiba em 99, mas chorei duplamente de alegria quando ela chegou a Manaus no dia da minha crisma e esteve lá na cerimônia. Foi uma das melhores surpresas, se não a melhor, que eu tive na vida.

Até hoje olho para a foto que tenho com ela, que está num lugarzinho cativo no meu mural de fotos do quarto. Quando vi ela casando, no sábado, confesso que bateu uma tristeza. Não por ela estar casando, longe disso. Porque eu não tenho dúvidas de que o Marcos vai fazê-la muito feliz, porque o amor deles é muito verdadeiro. A tristeza que bateu foi ter visto que ela já estava ali casando e a gente passou um bom tempo afastado.

Só que amor é uma parada foda. Não existe distância que resista a um sentimento verdadeiro. E isso eu percebo a cada vez que encontro a Anne, que a gente conversa. Mesmo sem nos falarmos todo dia, ela é uma das pessoas que mais me entende. É alguém que, quando eu falo, parece que nunca nos afastamos. Parece que sempre estávamos ali, um ao lado do outro. Uma amizade completa. Alguém que nunca vai passar na minha vida.

Quando dei um abraço na Anne, na festa de casamento, falei pra ela que estava muito feliz por ela. E ela resumiu tudo numa frase. Ela disse: “Te amo, mano”. Eu também a amo, e ela sabe disso. E por amá-la, eu lamento o tempo que nós nos afastamos. Mas graças a Deus o nosso amor, de irmãos mesmo, fraterno como poucos, superou a distância.

Só que nem sempre é assim. Amizade e acomodação são duas coisas que não combinam. Por isso saibam conservar suas amizades. Mesmo a minha amizade com a Anne tendo sobrevivido ao tempo, sei que outas já foram embora e fazem uma falta danada. Cultivem suas amizades. Mas cultivem mesmo. Porque uma hora a gente percebe que a vida não é só um grande circo, um grande oba-oba. E nessas horas a gente vai sentir falta de quem realmente nos ama do jeito que somos.

**Mensagem para lembrar que hoje é o Dia do Amigo. Mas é só um dia...outros 364 iguaizinhos têm pelo ano afora em que nosso comportamento precisa ser exatamente IGUAL ao de hoje. Comemorar só um dia é muito fácil.

Saturday, July 09, 2005

Sensor de compatibilidade...

“Eu não vou chorar, você não vai chorar
Você pode entender que eu não vou mais te ver
Por enquanto, sorria e sabia o que eu sei eu te amo”.

(Dessa Vez – Nando Reis)

Depois de tantos insucessos na vida amorosa, esta semana eu comprei um novo aparelho. Ele chama-se sensor de compatibilidade. Encontrei por acaso, vendo uns anúncios em sites de compras na Internet. Ele foi desenvolvido por uma empresa norte-americana com um único objetivo: ajudar você a escolher sempre a pessoa certa para manter um relacionamento.
Ora, existiria coisa mais apropriada neste momento?? Afinal, com o tal sensor de compatibilidade não há mais aqueles motivos fúteis para tantas brigas inúteis durante um namoro. Afinal, a compatibilidade entre homem e mulher é tão grande que cada um entende o outro perfeitamente. Sabe como o outro vai agir. E por isso ninguém magoa ninguém.
Com o sensor, também não há motivo para traição. Afinal, quando o sensor indica alguém como compatível com você, é porque esse alguém te completa, te dá tudo aquilo que você precisa. É o melhor amigo, o melhor amante, que te proporciona as melhores conversas, os carinhos apropriados na hora certa, o melhor sexo, o melhor afago. Tudo.
O sensor é tão poderoso que ele escolhe também não apenas uma pessoa perfeitamente compatível. Mas também a família da parceira (o). Com isso, lá se vão os problemas com sogras chatas, cunhados e cunhadas ciumentos, sogros inconvenientes e todos aqueles problemas com as famílias.
O sensor me trouxe apenas um problema. Eu não sei mais conquistar, não sei mais olhar pra uma garota, desejá-la e usar do charme (ou da falta dele) para ter alguma coisa. Tudo é voltado para o sensor. E é ele que dita os rumos da minha vida. Não sofro mais por amor, por escolhas erradas, mas também os sentimentos já não sou iguais. Me sinto bem menos humano e bem mais máquina. Tudo tem seu preço.

**O texto é uma obra de ficção, sem qualquer semelhança com a realidade, inspirado apenas numa conversa informal do autor e de uma grande amiga, em uma mesa de sorveteria, numa noite qualquer de quinta-feira.

Wednesday, July 06, 2005

Andando em círculos...

Dia desses eu tava remexendo umas coisas lá em casa e acabei encontrando meu primeiro caderno da faculdade, lá do mês de março do ano 2000. Acho que foi só aí que eu percebi o quanto o tempo passou...e o quanto as coisas passam rápido!

Naquela época, todos nós, recém saídos do ensino médio (na época acho que ainda era segundo grau), tínhamos aquela mania de escrever recadinhos no caderno dos outros. Quantos recados do tipo “amigo, adorei te conhecer” eu li por lá, sendo que a maioria vinha de pessoas que na metade da faculdade praticamente nem falavam mais comigo. São momentos que passam pela sua vida e só depois de muito tempo você percebe e vê que nada daquilo era tão importante assim naquele momento.

Um dia eu estava conversando com a Chrys* e comentei com ela que a minha vida andava meio num ciclo pautado pela internet. Entrava num grupinho de Internet, conhecia uma garota, ficava com ela, a garota passava, alguns amigos iam, outros ficavam e formavam outro grupinho, aí eu conhecia outra garota, e esquecia, e mais gente ia passando, mais gente vinha...ela reconheceu e até se assustou com essa tamanha verdade. É uma coisa que parece óbvia mas é difícil a gente pensar nisso quando estamos vivendo determinados momentos, determinadas situações que parecem ser as melhores de nossas vidas e nós sequer lembramos que coisas parecidas já aconteceram antes.

Mas a vida é assim. Feita de encontros, desencontros; decepções e alegrias; surpresas boas e ruins. E acima de tudo, é feito de momentos, que, se bem aproveitados, podem nos fazer parar de andar em círculos e buscar coisas novas, buscar crescimento, buscar amadurecimento...buscar viver. É isso que eu tenho tentado.

*http://www.vendesepasteldekeijo.blogger.com.br