Saturday, July 09, 2005

Sensor de compatibilidade...

“Eu não vou chorar, você não vai chorar
Você pode entender que eu não vou mais te ver
Por enquanto, sorria e sabia o que eu sei eu te amo”.

(Dessa Vez – Nando Reis)

Depois de tantos insucessos na vida amorosa, esta semana eu comprei um novo aparelho. Ele chama-se sensor de compatibilidade. Encontrei por acaso, vendo uns anúncios em sites de compras na Internet. Ele foi desenvolvido por uma empresa norte-americana com um único objetivo: ajudar você a escolher sempre a pessoa certa para manter um relacionamento.
Ora, existiria coisa mais apropriada neste momento?? Afinal, com o tal sensor de compatibilidade não há mais aqueles motivos fúteis para tantas brigas inúteis durante um namoro. Afinal, a compatibilidade entre homem e mulher é tão grande que cada um entende o outro perfeitamente. Sabe como o outro vai agir. E por isso ninguém magoa ninguém.
Com o sensor, também não há motivo para traição. Afinal, quando o sensor indica alguém como compatível com você, é porque esse alguém te completa, te dá tudo aquilo que você precisa. É o melhor amigo, o melhor amante, que te proporciona as melhores conversas, os carinhos apropriados na hora certa, o melhor sexo, o melhor afago. Tudo.
O sensor é tão poderoso que ele escolhe também não apenas uma pessoa perfeitamente compatível. Mas também a família da parceira (o). Com isso, lá se vão os problemas com sogras chatas, cunhados e cunhadas ciumentos, sogros inconvenientes e todos aqueles problemas com as famílias.
O sensor me trouxe apenas um problema. Eu não sei mais conquistar, não sei mais olhar pra uma garota, desejá-la e usar do charme (ou da falta dele) para ter alguma coisa. Tudo é voltado para o sensor. E é ele que dita os rumos da minha vida. Não sofro mais por amor, por escolhas erradas, mas também os sentimentos já não sou iguais. Me sinto bem menos humano e bem mais máquina. Tudo tem seu preço.

**O texto é uma obra de ficção, sem qualquer semelhança com a realidade, inspirado apenas numa conversa informal do autor e de uma grande amiga, em uma mesa de sorveteria, numa noite qualquer de quinta-feira.